terça-feira, 7 de agosto de 2018

Saravá se encanta e deixa a boêmia de Macau mais pobre

Perdemos talvez o último boêmio da minha cidade Macau. Quando digo boêmio falo daquele que com o violão na mão percorria as ruas da cidade prestando homenagem aos amigos e contemplando o luar. A história de Saravá parece em muito com uma canção de Luiz Gonzaga, "Assum Preto", quando em um dos seus versos fala: "Mas Assum Preto cego dos óio num vendo a luz canta de dor". Era assim o canto de Saravá, apesar de demonstrar uma alegria externa internamente expressava uma tristeza incontida pela sua condição de deficiente visual.

Como acho esta canção é parecida com ele, apesar de nunca o ouvi cantando.. Vejamos outro verso: "Assum preto veve sorto mas num pode avuá mil vezes a sina de uma gaiola desde que o céu pudesse oiá." 

Ninguém tinha mais liberdade que Saravá, percorria as ruas da cidade qualquer hora do dia ou da noite, sempre bem recebido por onde passava, só levava alegria. Durante muito tempo teve um companheiro fiel "Lú", era seu guia fiel.

Na hora de cantar sempre escolhia músicas romanticas, quem sabe na intenção de esconder a frustração de um amor que não teve o prazer de ter, a falta de da luz dos seus olhos roubado pela mordida de um cachorro raivoso.

Macau encontra-se mais triste com a partida de uma figura querida e foclorica. Enquanto isto no céu ele irá encontrar seus velhos companheiros de boêmia, Boró, Toinho Biquíni, 
Ronaldo, e aquele que mais ouviu sua canções Chico Seixas.

Vá com Deus Saravá.

Por Getúlio Teixeira

*Do Blog:

Saravá faleceu às 16 horas desta terça-feira, 7, no Hospital Luiz Antônio em Natal, vítima de três sucessivas paradas cardiovascular.

No próximo dia 22, ele completaria 63 anos. O lendário Saravá nasceu no Dia do Folclore e se encanta no mês em que se celebra a cultura popular.

Saravá fez parte da minha saudosa infância. 

Cego, excluído das mesas fartas das camadas sociais mais abastadas da cidade, Saravá sempre era bem recebido, a qualquer hora, no sobrado de seu Raimundo Valentin e dona Amália (meus avós maternos), na Benjamim Constant. 

O violão, seu companheiro de todas as horas, era compartilhado com meus tios, Betinho, Toinho e Aldo, que certamente, já estão em festa com a  chegada de Saravá, esperado para uma seresta das melhores, agora no céu.