Cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Os dados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e levantam debate sobre a importância da presença paterna na vida das crianças. Segundo o psicólogo Thales Coutinho, docente do curso de Psicologia da Estácio, o abandono paterno traz sofrimentos emocionais que podem perdurar na vida adulta.
“É da natureza do ser humano o desejo de conhecer suas origens, mas obviamente há uma diferença significativa entre desconhecer as características de um pai que faleceu e as de um que está vivo, mas decidiu-se pelo afastamento absoluto do filho. Nesta situação, é comum que a criança abandonada sinta insegurança e revolta, forje um tipo de apego disfuncional, chamado de evitativo“, explica o especialista.
O apego evitativo é a maneira com que a pessoa se relaciona com as demais, evitando vínculos sociais saudáveis pelo medo de ser abandonado e depender emocionalmente do outro.
Na teoria do apego evitativo, criada pelo psicanalista inglês John Bowlby, não necessariamente a criança abandonada repetirá o mesmo comportamento do pai na vida adulta, como descreve Coutinho. “É pouco provável que o indivíduo consiga constituir uma família. Isso porque o(a) próprio(a) parceiro(a) será percebido(a) como uma figura ameaçadora. Contudo, uma vez formado o vínculo afetivo, não há na literatura nada que demonstre essa reprodução do padrão do pai. Isso dependerá de uma série de características individuais e fatores ambientais”, analisa.